A construção da igreja matriz, atual Catedral Angelopolitana, se deu em meio a trancos e barrancos. Sua construção
iniciou-se no ano de 1929 tendo como
modelo a igreja de São Miguel projetada pelo jesuíta Gian Battista Primoli inspirada na igreja de Gesú de Roma
(sede da ordem jesuítica).
Após anos de paradas e
reinvestidas, somente nos anos 50 é que a igreja matriz ganha fachada tal qual
a conhecemos, o que só seria possível através de mãos habilidosas e muito
conhecimento arquitetônico. Neste momento entra na história de Santo Ângelo,
Valentim Von Adamovich que até então morava em São Luiz Gonzaga.
No alto do pórtico pode se ver as
6 esculturas iconográficas dos padroeiros dos demais povos missioneiros e o
anjo da guarda, padroeiro de Santo Ângelo, no nicho central, completando assim
os chamados 7 povos missioneiros.
Da esquerda para a direita, de
quem observa, vêem-se as seguintes imagens no alto do pórtico:
São Lourenço (1954) - Foi
executado na perseguição de Valeriano no ano
258. São Lourenço foi assado em uma grelha. A imagem representada do santo segura com a
mão esquerda uma grelha, a qual é sempre vista na iconografia cristã do mártir.
São Luiz Gonzaga (1955). Patrono
da Juventude, o jesuíta Luis Gonzaga faleceu
aos 23 anos, vitimado pela epidemia que assolava Roma. Sabendo da morte, Luis a esperou imóvel
com um crucifixo nas mãos. O modesto crucifixo
pode ser visto na mão esquerda da escultura do santo.
São Miguel Arcanjo (1953). A sua
frente, reforçando a ampla base da escultura, estão o escudo e a espada. Uma
linha vertical formada pela espada corta a imagem de alto a baixo reforçando a
simetria extremamente rígida, um lado parece reflexo do outro, diferentemente
das esculturas anteriores onde se nota uma leve movimentação. Enquanto seu
olhar descansa no horizonte, o arcanjo parece estar em total inércia, em
prontidão militar, a qualquer momento de
empunhar a espada e atacar.
São Francisco de Borja (1955) – Após enviuvar, decidiu entrar para a
Companhia de Jesus. Francisco deu grande impulso as missões e tomou conta dos
negócios da companhia e questões
diplomáticas nas cortes. As vestimentas retratadas na escultura de
Adamovich seguem as características do
alto escalão em que se encontrava o santo. O grande manto que cobre o corpo
cria uma posição estática, sem projeção para lado algum e o movimento contido
das mãos configuram um personagem centrado tal qual um diplomata, como sua
história conta que era.
São Nicolau (1954) – foi bispo de
Mira (Turquia), é mundialmente conhecido por sua associação a figura do papai
Noel, pois o costume de presentear vem do grande afeto que São Nicolau tinha
pelas crianças. A imagem do santo é representada com toda pompa de um bispo.
Nas mãos do hábil escultor a pedra parece ter se dobrado para formar o ondulante
tecido que forma o manto da imagem.
Santo Ângelo Custódio (1954) – No
nicho central está o padroeiro local, o Santo Anjo da Guarda. O anjo é
representado com vestes simples, uma única peça, uma túnica recobre seu corpo, porém repleta de movimentos na representação
do tecido. O corpo do anjo se projeta para frente e as mãos com as palmas
voltadas para frente parecem estar prontas a agir em defesa de qualquer mal.
Dois jovens indígenas trajando chiripá primitivo, adotado nas missões, estão
logo a frente do anjo sendo que um deles está em atitude de prece enquanto o
outro se recosta no ombro do primeiro.
Os pequenos guaranis transmitem a vulnerabilidade do povo que se abrigou nas
reduções a fim de se refugiar dos inimigos externos.
Trecho retirado do Livro do tombo
– Diocese de Santo Ângelo:
1955
- No mês de novembro
ficaram concluídas as obras do frontispício da igreja-matriz, contratadas com o
escultor austríaco Sr. Valentin Adamovich. Sem querer orgulhar-nos, devemos
confessar que a fachada da nossa matriz, cópia fiel do frontispício da igreja
jesuitica de São Miguel, ora em ruínas, é realmente um monumento de grande
valor histórico e artístico que fala bem alto da generosidade e do espírito de
fé do povo da capital das missões.